Quem sou eu quando não estou no altar?
Quero iniciar este estudo com um breve “tristemunho”, para a honra e glória de Deus. Digo “tristemunho”, porque o reconhecimento de minha atitude ruim me produziu uma tristeza tamanha que bateu forte em meu coração; mas que, felizmente, produziu uma esperança e vontade de alcançar uma mudança de hábito em minha vida.
O caso foi o seguinte. Cheguei do culto há alguns dias, e “perdi a bença”, como alguns irmãos dizem. Discuti com o meu esposo por um motivo mais do que banal, mas que para nós, casados, serve de “pano pra manga”... Então, durante a semana em que comecei a me preparar para este estudo de louvor, o Espírito Santo me fez relembrar o episódio e me levou à seguinte questão: "quem é você quando não está no altar? O que sobra quando não está tocando ou cantando?”.
Aquilo foi como um soco bem dado. Ele mirou e atirou fundo. Acertou na mosca. Quem em sou quando não estou escondido (a) atrás do meu microfone, atrás do meu instrumento, da minha máscara? Quem é você quando não está na companhia do pessoal da igreja? Quem somos nós quando estamos sozinhos sem ninguém pra condenar uma ou outra atitude que tenhamos?
Muitas vezes, como diz meu amigo Max Lucado, nós nos sentimos tristes quando vemos os irmãos testemunharem a respeito de estarem na nuvem de bênção número 43, enquanto nos sentimos no fundo do poço número 38... No entanto, temos que ser sinceros e realistas de que mesmo buscando com sinceridade, fervor e oração, há muito ainda o que ser mudado em nossas vidas, pois, Deus ainda não terminou o seu projeto. O importante é o aprendizado que resulta do arrependimento e da mudança de vida que nos propomos a alcançar com a ajuda de Jesus.
Após esta reflexão, eu finalmente me preparei para o estudo da palavra. E então, em um estudo que serviu de embasamento para este, acheguei-me à história de Davi, o ideal de adorador que muitos de nós almejamos ser... Se olharmos bem para a vida deste servo de Deus, podemos constatar que a harpa era só um “acessório” da sua vida de adoração. Quer ver? Abra sua bíblia, tire o pó do livro de I Samuel, e encontre o texto do capítulo 16, versos 14 a 23. "Tendo-se retirado de Saul o Espírito do SENHOR, da parte deste um espírito maligno o atormentava. Então, os servos de Saul lhe disseram: Eis que, agora, um espírito maligno, enviado de Deus, te atormenta. Manda, pois, senhor nosso, que teus servos, que estão em tua presença, busquem um homem que saiba tocar harpa; e será que, quando o espírito maligno, da parte do SENHOR, vier sobre ti, então, ele a dedilhará, e te acharás melhor. Disse Saul aos seus servos: Buscai-me, pois, um homem que saiba tocar bem e trazei-mo. Então, respondeu um dos moços e disse: Conheço um filho de Jessé, o belemita, que sabe tocar e é forte e valente, homem de guerra, sisudo em palavras e de boa aparência; e o SENHOR é com ele. Saul enviou mensageiros a Jessé, dizendo: Envia-me Davi, teu filho, o que está com as ovelhas. Tomou, pois, Jessé um jumento, e o carregou de pão, um odre de vinho e um cabrito, e enviou-os a Saul por intermédio de Davi, seu filho. Assim, Davi foi a Saul e esteve perante ele; este o amou muito e o fez seu escudeiro. Saul mandou dizer a Jessé: Deixa estar Davi perante mim, pois me caiu em graça. E sucedia que, quando o espírito maligno, da parte de Deus, vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa e a dedilhava; então, Saul sentia alívio e se achava melhor, e o espírito maligno se retirava dele".
Sempre associamos à imagem de Davi o ideal de um excelente músico. Alguém que "fazia chover" quando dedilhava sua harpa. O cara que todo mundo quer ter em sua banda de louvor. O canelinha ou sapatinho de fogo. O mais-que-super-hiper-mega-ultra-power adorador... Com o texto que lemos acima servindo como base, eu sempre observei Davi sob a ótica de um excelente músico, pois em três vezes aqui é enfatizada a importância da técnica (versos 16, 17 e 18). No entanto, a partir desta pergunta com a qual eu fui confrontada, comecei a observar a vida de Davi no que diz respeito a outros detalhes de sua vida, de seu caminhar com Deus. Só nestes poucos versos encontramos várias outras virtudes associadas a Davi. Esquecendo por enquanto que ele sabia tocar, vejamos o que sobra de Davi sem sua harpa:
- HUMILDADE: Em todos os seus salmos, Davi demonstra total humildade e dependência do Senhor. Sl 59.17: A ti, oh fortaleza minha, cantarei louvores, pois Deus é a minha defesa, é o Deus da minha misericórdia. Sl 86.7: no dia da angustia clamarei a ti, porquanto me respondes. O princípio de humildade é muito importante aqui, pois Deus não trata COM pessoas arrogantes; Ele trata DE pessoas arrogantes. O orgulho precede a queda, assim como foi com Lúcifer. Davi, em sua vida, sempre conservou seu coração livre de aborrecimentos causados pelo orgulho de seus feitos, atribuindo todas as suas conquistas e vitórias a Deus.
- SUBMISSÃO À AUTORIDADE: vem juntamente com humildade. Davi era um jovem que honrava e obedecia. Pastoreava as ovelhas com a ordem de seu pai, e quando ele o chamou para ir até Saul, prontamente obedeceu. Com raras exceções explicadas pela bíblia, ele obedeceu em tudo ao Senhor.
- MENTE E CORAÇÃO DE SERVO: Davi tinha grande disposição em servir. Ele ficou a disposição do rei Saul, um homem possesso - e a gente pensa que o nosso chefe é que incomoda... Antes, servia ao seu pai cuidando de ovelhas, e agora, estava sempre de prontidão, à disposição do rei.
- MENTE E CORAÇÃO DE PASTOR: Como já foi dito, antes de se mudar para o palácio Davi apascentava as ovelhas. O dicionário define apascentar como levar as ovelhas ao pasto, cuidar delas e protegê-las. Nunca conseguiremos compreender tal tarefa. A ovelha é um dos, ou talvez, o mais dependente de todos os animais. A tamanha sensibilidade de Davi, uma virtude que não pode faltar a um pastor, foi aguçada no pastoreio com as ovelhas. Com elas, ele aprendeu valores como guiar, cuidar, proteger, suprir, zelar... Nós, enquanto servos do Senhor, temos que auxiliar a pastorear, proteger, guiar o Seu rebanho, pois estes são os frutos que geraremos para a eternidade. Todos os solos de teclado, slaps de baixo, solos de guitarra e viradas de bateria, arranjos vocais são passageiros; devemos ter em foco o rebanho do Senhor, as suas ovelhas, o povo de Deus. Como disse uma vez a cantora Fernanda Brum, em um de seus congressos: “Se você vem me dizer que foi chamado pra gravar cds, foi chamado pra cantar ou tocar, se liga querido. O nosso chamado é para EVANGELIZAR, levar as boas novas aos que estão perdidos – usando então os mais diversos veículos de comunicação que possuímos hoje em dia, como musica, teatro, pregação.”
- DISPOSIÇÃO E DISPONIBILIDADE: apesar de parecerem iguais, são diferentes. Muitas vezes você tem disposição para ir, mas não está disponível naquela hora. Davi possuía os dois. Era o famoso “pau pra toda obra". Disposição e disponibilidade para trabalhar, servir, lutar. A bíblia não nos mostra qualquer resistência ou desculpas por parte de Davi. Era alguém livre; disponível e disposto. Quando o pai dizia: vá apascentar o rebanho, ele ia. Quando o pai dizia: venha, pois o profeta quer lhe ver, ele vinha. Quando recebia a ordem: Saul lhe chama, ele ia. Quando era incumbido de ministrar ao rei atormentado, ele ministrava. Estas virtudes tendem a ser raridade em nossos músicos, que exigem que se ache espaço em suas agendas lotadas. E como diz sempre o meu pai, pr. Silvio... “Você só vai arranjar tempo para aquilo que julga ser realmente importante”.
- UNÇÃO E AUTORIDADE: A unção e a autoridade de Davi são comprovadas mediante a vitória contra o espírito maligno, afinal, foi por este motivo que o espírito maligno se retirava de Saul quando Davi dedilhava sua harpa. Unção e autoridade são virtudes resultantes de comunhão diária e de uma vida reta diante de Deus. Lembremos da correria que os judeus exorcistas provocaram ao tentar usar o nome de Jesus, a quem não conheciam, para expulsar demônios... Leia mais sobre isso em Atos 19.13-17.
- FORÇA E VALENTIA: Davi era forte e valente ao extremo. Sejamos francos: ser requisitado para ministrar a uma pessoa possuída por um espírito maligno exige muita força e valentia. Davi não relutou diante do desafio porque era forte e valente. Ele passou por dificuldades tremendas, prevalecendo em situações extremamente complicadas que exigiram muita força e valentia de sua parte: encarou demônios, animais selvagens, gigantes, exércitos. Teve que suportar perseguições, rebeliões e retaliações, inclusive de seus parentes mais chegados. Prevaleceu porque tinha um espírito forte e valente, fortalecido em Deus.
- GUERREIRO: Davi era um guerreiro que se tornou um dos mais conhecidos homens da bíblia por ter matado Golias, um gigante de quase 3 metros de altura. Nosso chamado exige espírito guerreiro, e para guerrear, temos que estar revestidos da armadura de Deus – aí sim prevaleceremos contra o mal (Efésios 6.10-18).
- SISUDO EM PALAVRAS: sisudo quer dizer ajuizado, sensato. Davi não era um tolo descabeçado qualquer e também por isso foi escolhido para estar junto a Saul. Um insensato convivendo com um atormentado seria a ruína total.
- BOA APARÊNCIA: Boa aparência soa aqui como um bom testemunho. Davi mantinha sempre um bom testemunho diante de Deus e dos demais homens, e por isso foi citado na casa de Saul; não foi Davi quem procurou a "vaga" profética, alguém deu testemunho a seu respeito.
- COMUNHÃO COM DEUS: “E o Senhor é com ele”. Não é difícil perceber que este era o segredo de Davi. Davi é um modelo bíblico de adorador. Não porque era músico, mas porque andava com Deus. Ele não passava de um simples jovem, o caçula esquecido de Jessé. Deus em sua vida é quem fazia toda a diferença.
Diante de tudo isto, exposto aqui, fica a pergunta: Quem somos nós quando não estamos tocando, cantando, pregando? Se Jesus viesse hoje e pedisse que “pendurássemos a chuteira”, ou seja, deixássemos de tocar ou cantar, o que sobraria da minha e da sua vida de adoração? Que possamos nos esforçar para seguir o exemplo de Davi, não só em sua musicalidade, mas principalmente em sua busca incessante pelo Altíssimo.